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CASTELO VIEGAS
Chanfana, negalhos, ossos, papas laberças, sopa da noiva, arroz doce e bolos de abóbora.
 
SANTA CLARA
De referir o toque medieval do casario arrumado à volta do antigo convento que foi abandonado pelas clarissas em pleno séc. XVII, por ordem de D. João IV, em virtude das cheias e da insalubridade do lugar.
 
Por este burgo se movimentaram nobres figuras da História Nacional e se exprimiram sentimentos como os que uniram D. Dinis ao culto da poesia, da terra e da língua portuguesa, Pedro e Inês ao amor e ao mito da saudade ou os que iluminaram o espírito de João das Regras na defesa da independência. Mas acima de tudo não podemos deixar de marcar os caminhos de peregrinação e de sabedoria exemplar que fizeram de Isabel de Aragão uma rainha inteligente, forte e determinada que instaurou o culto do Espírito Santo e que foi aplaudida em Portugal inteiro como justa, sábia, miraculosa e Santa.
 
Poetas, músicos, artistas, muitos evocaram a colina e ergueram bem alto o nome desta cenografia onde se recorta o convento seiscentista e barroco, risco de Frei João Turriano e obra de mestre Domingues de Freitas de Guimarães, de Pedro de Freitas, seu irmão, e também de outros mais, alvenéis, pintores, entalhadores e imaginários locais ou portuenses como António Gomes e Domingues Nunes que trabalharam nos retábulos sob a orientação do arquitecto régio Mateus do Couto.
 
Este convento recebeu uma comunidade de clarissas que, para além da prática da religião, soube enriquecer como ninguém, a cozinha e a doçaria portuguesa.
 
Caldos perfumados, ensopados de carneiro, carne de vaca, peixe do mar ou do rio, bolos, compotas, doces de colher, confeitos, toda a riqueza e sabor que alimentou festas, outeiros, entremeses, abadessados, atravessou o tempo e desenvolveu os jogos da poesia apaixonada, erótica, satírica ou burlesca tão florescente no século XVII português.
 
O exercício da cozinha e da botica suscitava nas apertadas ou pouco abstinentes clarissas a imaginação e o talento que, nas misturas e na engenharia do açúcar, atingia o mais alto grau de esplendor e provocava nos freiráticos a manifestação da escrita, também ela subtil e povoada de recreação, ambiguidade e algum atrevimento.
Mandava a regra das enclausuradas que se abstivessem de atitudes, leituras, palavras ou mesmo de cantigas seculares ou profanas.
 
Mas seguindo a liturgia, o calendário e as estações do ano, as irmãs refeitorárias e conserveiras preparavam as carnes com ervas de cheiro e adubos, as perdizes, os pombos e coelhos, a lampreia, tudo receitas com uso secreto de condimentos e especiarias como o açafrão, a canela, a pimenta, o gengibre, os cominhos. Para a doçaria, e nos frascos pintados da louça de Coimbra, repousavam a erva-doce, a água de flor de laranjeira, a água de murta, o açúcar; enquanto nos açafates e tigelas de barro vidrado se guardavam os ovos, as frutas, os primores. As grandes produções conventuais eram constituídas por arroz cozido em leite ou arroz doce, coalhadas, celestes, massapão, queijadas, pastéis, amêndoas confeitas, barrigas de freira, manjares brancos ou reais, arrufadas.
E com a produção doceira nasce a arte frágil e imaginativa do recorte do papel, de fabrico italiano, que nos chega de Veneza. Desenvolvem-se os trabalhos de linho, as rendas, os bordados, as artes do tear que ainda hoje florescem em terras de Almalaguês. A 12 de Agosto era celebrada com toda a pompa litúrgica a festa de Santa Clara. Depois da missa cantada Dilexisti justitiam, o refeitório do Convento Novo, tornava-se então num mar de boa fruta, de júbilo e requintada doçaria: maçãs, pêras, figos, codornos de Torres Novas, uvas e melão da Vila de Pereira. Natas, pingos de tocha, celestes, rebuçados, covilhetes de marmelada, sopas douradas, lampreias de ovos, barrigas de freira, talhadas de príncipe.
 
Então o Monte da Esperança iluminava-se com procissões, cores, touradas, jogos, teatro, canto, luminárias; e no aplaudido Mosteiro todos os sabores, movimentos, perfumes e suspiros, nascidos do coração das noviças, vinham enredar-se, por força da tradição, nos pratos, doces de colher, pontos de açúcar, claras batidas em castelo ou meio castelo, preces, bênçãos e luzes que eram a graça e o espírito da cozinha conventual, imaginativa, rítmica e sobretudo exemplarmente coimbrã.
 
E Santa Clara marcou pontos nesta indústria tão maravilhosa e única que, há mais de 300 anos, habitou o seu convento, ganhou famas e prémios internacionais, serviu reis e majestades, animou as margens do Mondego e alargou decisivamente a cultura nacional.
 
DOCES TRADICIONAIS:
Pastéis de Santa Clara, Pessegada, Rebuçados de Ovos, Arrufadas de Coimbra, Manjar real, Melindres.



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